E assim se chegou ao fim da 13ª edição do Festival Super Bock Super Rock. Peço desculpa pelo atraso no relato, mas estar de férias tem destas coisas: nem sempre se tem um computador por perto. Antes de avançar com as crónicas dos concertos, apresento-vos os grandes “vencedores”, na minha óptica, desta edição do festival (em ordem cronológica):
Metallica
Arcade Fire
Maxïmo Park
LCD Soundsystem
TV On The Radio
Scissor Sisters
UnderworldAct II – Dia 1O primeiro concerto a que assisti (parcialmente) foi dos
The Gift. É pena que uma banda com um repertório tão bom e com tantos discos vendidos em território nacional não tenha conseguido entusiasmar o (verdadeiramente indiferente) público. E não foi por falta de esforço da banda. Talvez seja um caso de saturação (quem não viu já esta banda ao vivo?). Ou talvez seja mesmo por serem portugueses. É triste, mas é verdade.
Os
Klaxons foram os senhores que se seguiram, conseguindo dar um safanão no tédio que se tinha instalado no recinto. Mas apenas por pouco tempo, já que foi uma actuação algo irregular, tendo apenas conseguido animar as hostes a espaços. Mesmo assim, o seu estilo mais
up-tempo conseguiu acordar o público presente que, infelizmente, não se manteve suficientemente acordado durante a actuação que se seguiu.
Gostei muito do concerto dos
Magic Numbers, embora ache que tenha sido um erro de
casting colocar a sua actuação a seguir à dos Klaxons. Acho que a ordem contrária teria sido benéfica para ambas as bandas, já que o estilo de rock mais melódico dos Magic Numbers não foi tão apreciado como devia, dado ter sido apresentado a uma hora em que o público já queria abanar o capacete. Também penso que erraram ao terem “despachado” parte significativa dos
singles logo no início do concerto.
Seguiu-se uma das duas actuações mais esperadas da noite: a dos
Bloc Party. O concerto desiludiu-me por uma razão apenas. Por ter sido praticamente igual ao concerto dado há mês e meio no coliseu dos recreios. Com um intervalo tão curto entre os dois concertos, exigia-se um pouco de inovação e, na minha opinião, a inclusão de “two more years” (estranhamente “esquecida” no coliseu) não foi suficiente. Até os comentários de Kele Okereke foram semelhantes. Ganharam o prémio “piloto automático” da noite, tendo, contudo, dado um bom concerto. Mas por vezes a eficácia extrema não compensa a falta de surpresa. E o público também não se esmerou. Tanto em Paredes de Coura, como no coliseu, o ambiente era de maior euforia. A saturação tem destas coisas...
Minutos depois da meia noite, iniciou-se aquele que foi, sem qualquer margem de dúvida, o melhor concerto deste primeiro dia do Act II. Os
Arcade Fire deram um concerto fenomenal. Saí de lá com a mesma sensação que saí do concerto dos Strokes no Lisboa Soundz em 2006: adorando o concerto, mas, no entanto, não sabendo explicar porque. Foi qualquer coisa sobrenatural. Foi divinal e o público correspondeu de forma exemplar. Foi um momento de união entre os 20 mil espectadores presentes e a banda. Um momento de euforia colectiva. Fomos hipnotizados e acho que falo por (quase) todos quando digo que é bom que estes senhores regressem o mais rapidamente possível.
Act II – Dia 2O dia começou com uma grande desilusão: a notícia do cancelamento da actuação dos Rapture. Aguardava este concerto com alguma ansiedade e, por isso, a notícia deixou-me triste. Até porque, aparentemente, o cancelamento resultou de uma doença séria de um dos membros da banda. Respect e as melhoras.
Mas as desilusões não terminaram aqui. A actuação dos
Clap Your Hands Say Yeah foi, na minha opinião, ridícula. Possivelmente o pior concerto que vi neste festival. Sem chama e (extremamente) desafinada. Sou fã da banda, pelo que me custa dizer isso, mas passei o concerto todo a olhar para o relógio, contando os minutos para que a actuação terminasse. Não posso deixar ainda de salientar a antipatia do membro da banda entrevistado (não apanhei o início, pelo que não sei qual foi) na Antena 3, respondendo de forma monossilábica e dificultando a vida, desnecessariamente, ao entrevistador. Estes escusam de voltar.
Contudo, seguiu-se aquele que foi o primeiro grande concerto da noite. Os
Maxïmo Park deram uma electrizante actuação, seguida de perto por muitos milhares de fãs surpreendentemente conhecedores e deixando-me com uma vontade incontrolável de comprar os seus álbuns (um já marchou). Rock n´ fuckin’ roll dançável, com pitadas de punk e com a atitude e entrega tipicamente oriunda do norte de Inglaterra. Excelente.
Não sei bem como abordar a actuação dos
Jesus and Mary Chain. Sou fã da banda, mas identifico-me pouco com o seu estilo de
performance ao vivo. Podia criticá-la, mas eles sempre foram assim, pelo que não faria sentido fazê-lo. São
dark e
gloomy. E sobre isso não há nada a fazer. Podia falar sobre a actuação enferrujada, mas isso é normal dado o tempo que estiveram longe dos palcos. E para além disso, houve bandas bem mais novas a terem que recomeçar músicas, por erros técnicos, neste festival. Por isso, o que é que me resta dizer? Pouco. São uma grande banda, embora não faça questão de os voltar a ver ao vivo.
A noite acabou com uma actuação espectacular dos
LCD Soundsystem. Num palco minimalista, em termos visuais, embora bastante recheado de instrumentos, mesas de mistura e... pessoas, a banda conseguiu deixar o público em euforia ao longo de cerca de uma hora e um quarto. O (barrigudo) James Murphy não é tipo para grandes conversas, não sendo, contudo, arrogante. Simplesmente, parece estar mais concentrado em controlar aquilo que se passa em palco (o homem não pára) do que manter um relacionamento caloroso com o público. Ao fim ao cabo, é a música que interessa, não? E os LCD Soundsystem demonstraram – e bem – porque é que são consideradas uma das melhores bandas do mundo. Não foi fácil atingirem o topo (James Murphy já tem 37 primaveras), mas parecem ter chegado para ficar.
Act II – Dia 3Na minha opinião, a terceira e última noite do Act II do SBSR foi, de longe, aquela em que o nível das actuações foi mais consistente.
A primeiro concerto que vi foi dos
The Gossip, onde Beth Ditto espalhou a sua mística pelo palco durante três quartos de hora, comunicando e saltando como se não houvesse amanhã e mostrando aos lisboetas (e não só) que possui, efectivamente, uma grande e
soulful voz (se bem que o microfone estava demasiado alto, para o meu gosto). “Standing in the way of control” foi, sem dúvida, um dos pontos altos da actuação.
Seguiram-se os
TV On The Radio, uma das bandas que eu aguardava com maior ansiedade. Não obstante ter a noção da não consensualidade daquilo que vou dizer, achei que foi um dos melhores concertos deste festival. A banda deu um espectáculo verdadeiramente electrizante, apenas prejudicado i) por ter ocorrido de tarde e ii) por parte significativa da assistência não parecer ser fã da banda . Ver aquela sinfonia anárquica ao vivo foi arrepiante e adoraria poder vê-la novamente, mas preferivelmente num ambiente mais intimista, só para verdadeiros apreciadores (eles existem e, ainda assim, estavam presentes em quantidade
qb).
Os
Scissor Sisters foram os senhores (?) que se seguiram e partiram a loiça com um mega espectáculo de rock (quem diria?) apenas “auxiliado” por elementos electrónicos (e não ao contrário, como eu esperaria). Foi um grande concerto, em que os “sisters”, com a sua energia, divertimento e, quer queiramos admiti-lo, quer não, grandes músicas, deixaram os “Lisbians” (lindo) rendidos. Foi, indubitavelmente, outros dos grandes concertos do festival, em que, estranhamente, o “I don’t feel like dancin´” foi apenas “mais um” dos momentos alto.
Quando acabaram os Scissor Sisters, comentei com os meus compinchas que os
Interpol não iriam ter a vida nada facilitada e, na minha opinião, foi uma profecia acertada. Há quem tenha dito posteriormente que o concerto da banda nova-iorquina foi “intenso”. Eu achei-o monótono (salvo apenas pela dedicação dum público muito fiel). A banda pouco se mexe em palco e as suas interpretações não fogem um milímetro das versões de estúdio. Gostei da decoração (luz e imagem) minimalista, mas acho que se pede mais dinâmica a uma actuação de uma banda de rock. Ganharam o prémio “piloto automático” da noite.
A noite, bem como o festival, acabou com os
Underworld a conseguirem transformar o recinto do festival numa
rave pura e dura. Mais público do que aquele que eu esperaria que ficasse assistiu a uma brilhante actuação e dançou,
non-stop, durante cerca de hora e meia (o concerto mais longo do festival, para além de Metallica). E eu teria ficado muito mais tempo, caso a organização tivesse permitido que a banda permanecesse em palco. “Born Slippy” e “Moaner” (ultimo tema da noite - brilhante) foram momentos mágicos, tendo a actuação toda (moldada em redor do seu “best of”) sido muito consistente. Foi uma excelente forma de terminar um festival que, não tendo sido perfeito, teve momentos inesquecíveis.